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10.09.-
30.09.99
Os acontecimentos de Aiun
O movimento de protesto saharaui (ver semana
38),
iniciado no dia 10 de Setembro por uma concentração
pacífica e brutalmente reprimida na noite de 21 para 22,
prosseguiu até 30 de Setembro. Na noite de 22 para 23 de
Setembro, uma nova manifestação foi dispersada
brutalmente. Segundo diversas fontes, o balanço é de um
a vrios mortos, muitos feridos, cinco dos quais gravemente, em
virtude de disparos de balas, e inúmeras
detenções.
Segunda-feira 27 de
Setembro: manifestação de protesto contra a
violência policial da semana anterior, seguida de marcha que
degenera em confrontos entre saharauis, colonos marroquinos e
polícias. Segundo a AFP (Agence France Presse) e a RFI (Radio
France International), citando testemunhas, «membros da
polícia marroquina recrutaram "milícias" para atacarem
os saharauis». Apedrejamentos, bastonadas, facadas. Vrias
viaturas são incendiadas, lojas de comércio e casas
pertencentes a saharauis do bairro Maatalla pilhadas e incendiadas.
Segundo o balanço da RFI: uma centena de
detenções, uma centena de pessoas identificadas nas
esquadras de polícias, 30 casas destruídas. A MINURSO
confirma os confrontos.
Mulheres saharauis manifestam-se frente à sede do governador
reclamando a libertação dos seus filhos.
Os confrontos sucedem-se durante três dias. As forças
policiais mostram-se incapazes de controlar a situação,
o exército intervém por iniciativa do rei. Os poderes
do wali são alargados, o pacha e o chefe da polícia de
Aiun demitidos dos seus postos (AFP).
A 30.09. a calma
volta à cidade: O estado de excepção é
decretado ao conjunto do território. Sob o comando do general
Hosni Benslimane, enviado de Rabat, as cidades do Sahara Ocidental
são patrulhadas dia e noite, oficiais superiores do
exército substituem os chefes de polícia, as fronteiras
fechadas e os turistas obrigados a regressar aos seus locais de
origem.(SPS)
Segundo a agência noticiosa saharaui (SPS) houve
manifestações também em Smara, Tan-Tan e
Goulimine.
Reacções
A imprensa marroquina começa a relatar os acontecimentos de
Aiun no dia 29 de Setembro, associando as manifestações
a reivindicações de ordem social, frequentes em todas
as cidades de Marrocos, negando-lhes a conotação
política mas sublinhando a sua legitimidade. As brutalidades
policiais são no entanto minimizadas. D a entender-se que
alguns manifestantes empunhavam as cores nacionais marroquinas e
imagens do rei. A imprensa fala de m gestão da crise. O jornal
dirio do partido Istiqlal e do OADP (extrema-esquerda) reclamam uma
comissão de inquérito.
Os despachos da agência noticiosa saharaui atribuem as
manifestações ao descontentamento face à
política marroquina para o território, no plano social,
dos direitos do homem e da aplicação do referendo.
Nos campos de refugiados os acontecimentos são seguidos com
inquietação e organizam-se vrias
manifestações de solidariedade para com as
vítimas da repressão.
Em carta enviada a
24 de Setembro ao SG da ONU Kofi Annan, o presidente Abdelaziz
pede-lhe que intervenha para pôr fim aos atentados contra os
direitos do homem perpetrados por Marrocos e promova uma
comissão de inquérito internacional aos acontecimentos.
O comportamento irresponsvel da polícia marroquina, a que se
junta a utilização provocatória da arma do
recurso no processo de identificação, podem pôr
em causa a organização do referendo, acrescenta Mohamed
Abdelaziz, que estima existirem premissas subjacentes no Sahara
Ocidental semelhantes às existentes em Timor-Leste. A 29, o SG
da Frente POLISARIO envia nova carta, desta vez ao presidente do
Conselho de Segurança, condenando energicamente o
silêncio das Nações Unidas e solicitando a
constituição imediata de um comissão
internacional de inquérito.
A 30, o governo saharaui lança um apelo à comunidade
internacional para que intervenha junto das autoridades marroquinas,
a fim de pôr termo à carnificina.
Vrias representações saharauis no estrangeiro enviam
apelos a Kofi Annan e tentam alertar a opinião pública
internacional. (Índia, América Central, Austrlia,
Espanha ...).
A 'task force' da
Coordenação Europeia, reunida a 25.09. em Madrid, envia
também uma carta a Kofi Annan e ao primeiro-ministro marroquino.
A Western Sahara Campaign organiza uma acção urgente no
Reino Unido.
29.09.99
Nomeações
O rei Mohamed VI nomeia Mohamed Loulichki, antigo ambaixador na
Hungria e na Crocia, como novo embaixador-coordenador junto da
MINURSO, em substituição de Mohamed Azmi, considerado
próximo do ministro do Interior Driss Basri.
O novo monarca nomeia também o coronel-major Hamidou
Laânigri director-geral da Direcção de
Vigilância do Território, DST. Laânigri é
uma dos mais próximos colaboradores do general Abdelhak
Kadiri, chefe das informações militares. Sector que
deixa de estar subordinado ao Ministério do Interior.
EM BREVE
20.09.99, Nações Unidas: Vrios chefes de Estado e de Governo apelaram à rpida aplicação do Plano de Paz no Sahara Ocidental, no decurso das suas intervenções diante da 54.ª sessão ordinria da Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque.
30.09.99, Rabat: Abraham Serfaty regressa a Marrocos "sem condições nem negociação". "Tenho uma enorme esperança em Mohamed VI", declara ao jornal Le Monde, acrescentando que regressa a Marrocos para ajudar ao desenvolvimento da sociedade civil e estar à disposição do primeiro-ministro Youssoufi.
30.09.99, Austrlia: O Senado adopta uma moção de apoio à organização de um referendo livre e regular no Sahara Ocidental, pedindo ao governo que aumente a sua ajuda à MINURSO e que estabeleça contactos oficiais com os representantes da Frente Polisario.
30.09.99, Timor-Leste: O presidente do Conselho Nacional da Resistência Timorense, Xanana Gusmão, anuncia que visitar em breve os campos de refugiados saharauis.
SOLIDARIEDADE
Pérousa, Itlia: Uma delegação da Frente
Polisario, o secretrio-geral da Juventude Saharaui, Mohammed Moulud
Fadel, e o representante da Frente Polisario em Itlia, Omar Mih,
participaram na terceira Assembleia da ONU dos Povos entre 23-25 de
Setembro de 1999. Vrios representantes da juventude saharaui,
associações e comités locais de apoio ao Povo
saharaui, autarquias geminadas com os campos de refugiados
participaram no dia 26 de Setembro (Domingo) na Marcha pela Paz entre
Pérouse e Assise, iniciativa anual do movimento italiano pela
paz.
[É possível que existam links com diversos jornais que deixem de estar em funcionamento ao fim de alguns dias]