A história do Sahara
Ocidental até ao início da colonização
espanhola, que ocorreu no fim do século passado, não
pode ser separada da história da zona ocidental da
África do norte. Situado na fronteira entre o Magreb e a
África Negra, o Sahara Ocidental tornou-se o ponto
estratégico para as trocas entre essas duas regiões. Ao
mesmo tempo, pela sua posição geográfica, no
extremo da expansão árabe e no limite das grandes
estradas saharianas, o Sahara Ocidental conseguiu conservar uma certa
originalidade, apesar de ter participado nos grandes movimentos
históricos do conjunto magrebino.
Seria em vão, no entanto, procurar na sua história a
integridade territorial de uma nação no sentido moderno
da palavra. Devido à natureza social das comunidades
nómadas e a uma história marcada pelas correntes
migratórias, a entidade territorial deste país, como a
de outros países africanos, não foi definida de uma
maneira rígida senão pelo império colonialista.
Também seria em vão procurar nesta região a
origem de um direito histórico de um qualquer dos
países vizinhos.
Pelo contrário, em particular a partir do século XIV,
uma nítida distinção política separa este
região do resto da zona ocidental da África do Norte.
Para todos os efeitos, o que faz com que hoje o Sahara Ocidental seja
uma " nação " , como no caso de muitos outros
países, africanos ou não, não é a
referência às fronteiras do passado pré-colonial
mas em primeiro lugar, e sobretudo, a vontade deste povo conquistar a
liberdade.
Nos tempos pré-históricos o imenso deserto do actual
Sahara era uma região relativamente favorecida por um clima
húmido, povoada por negróides aos quais se misturavam
populações berberes vindas da costa mediterrânica
através do Magreb.
A transformação do Sahara em região seca a
partir do terceiro milénio antes de J.C. provoca a ruptura
entre as populações negras e as berberes. As primeiras,
sedentárias, instalam-se no Sul do Sahara, enquanto as
segundas, nómadas, ficam no Norte, assegurando assim uma
ligação entre o Mediterrâneo e a África
Negra. Esta ligação é bem posta em
evidência pela estrada das caravanas (traçada de acordo
com as gravuras rupestres) que, desde o sul de Orão e o sul de
Marrocos, chegava ao anel do Níger passando pelo Rio de Ouro e
pela Mauritânia.
Por alturas do ltimo milénio antes de J.C., os
fenícios, estendendo-se até ao norte da costa
atlântica de Marrocos, controlam o tráfego do ouro que
vinha do Senegal pela estrada do litoral atlântico. No
século V antes de J.C. um viajante fenício teria
atingido o cabo Juby e mesmo o Golfo da Guiné. A chegada dos
Romanos no século III antes de J.C. não afecta muito a
vida das populações berberes da região ocidental
do Sahara. No começo da era cristã, a
introdução do dromedário permite retomar
progressivamente os contactos com a África Negra, praticamente
interrompidos depois da desertificação.
Decisiva para toda a África do Norte, a invasão árabe opera-se por expedições sucessivas a partir de 640 depois de J.C.. O Magreb é alcançado em 647 por Okba ben Nafi, que teria mesmo chegado à costa atlântica por volta de 683. Apesar das resistências berberes à invasão militar, a islamização realiza-se bastante rapidamente. No século VIII toda a região regista um notável desenvolvimento devido à impulsão dada pela presença árabe ao comércio do ouro entre a cidade de Sijilmassa (na região de Tafilalet, no sul de Marrocos) e a de Aoudaghost (na região de Aouker, no sul mauritano).
A parte meridional (sul da Mauritânia e Mali ocidental) viveu sob a influência do reino negro do Ghana; depois, no XI século, a região vê nascer o movimento almorávida. O chefe berbere do Atar, Yahia Ibn Ibrahim, depois de uma peregrinação a Meca, toma a iniciativa de chamar o sábio marroquino Ibn Yasin a fim de pregar o Corão às populações da região. Os discípulos de Ibn Yasin reagrupam-se numa ilha perto da costa mauritana num convento fortificado (ribat, de onde o nome de Al Moabitum, isto é, os de ribat). Eles encontram-se na origem da expansão Almorávida que se estenderá, até ao meio do século XII, da Espanha ao Senegal e da costa atlântica até à Argélia Central.
Surge então a vez dos Almohadas, oriundos de Marrocos, unificarem o Magreb, do golfo de Gabes ao Atlântico, entre o século XII e o XIII. Depois da queda da dinastia Almohada, mais nenhuma dinastia conseguirá unificar o Magreb. A partir do século XIII, os Maqil, nómadas vindos do Oriente árabe, invadem o Sul. No norte, Marrocos define-se aproximadamente nos limites actuais a partir do século XIV. Repelidos para sul do Ued Draa pelo sultão marroquino da dinastia merinida cerca de 1270, os Maqil ocupam progressivamente, entre o século XV e o XVII, o território que se estende desde o Ued Draa à actual Mauritânia. Entram em miscigenação com os berberes, também eles nómadas. É desta união que nasce a actual população do Sahara ocidental.
Torna-se difícil seguir a história subsequente desta parte da região sahariana. Pode dizer-se que a área que coincide com os limites actuais do Sahara Ocidental se manteve afastada dos conjuntos territoriais já constituídos: o império negro de Sonhay no séculos XVI, que ia das salinas de Therraza (extremo da Mauritânia) até ao rio Níger, sem no entanto se aproximar da costa atlântica; e o reino da dinastia Alauita de Marrocos (ainda hoje detentora do poder) que não ultrapassará, quanto aos seus limites meridionais, o Ued Draa.